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“Joanne” é a mais madura e sofisticada turnê de Lady Gaga, mas tem pausas demais

Pode ser que o último álbum de Lady Gaga não tenha sido um fenômeno nas rádios mundo afora, mas isso não significa que ela esteja acabada como muita gente gostaria de acreditar. Sua “Joanne World Tour”, que estreou no Canadá, no último dia 1º, passou por Los Angeles com anúncio de ingressos esgotados para as apresentações desta terça e quarta-feiras e para o show que encerra a turnê em 18 de dezembro.

O Papelpop esteve na arena Forum, em Los Angeles, nesta terça-feira (8), para conferir a performance da “mother monster” e a percepção foi: Gaga amadureceu e se tornou uma profissional do pop, sofisticada, mas sem perder a identidade. Comparando com a última turnê que passou pelo Brasil em 2012, “Joanne” é um show de tecnologia e precisão — nada daquele castelinho horroroso da fase “Born This Way”. Também ficou de lado o excesso de discurso auto indulgente para fazer o que faz de melhor: cantar. E como canta!

Especialmente as canções novas, que são um dos pontos fortes do show. Gaga abre com “Diamond Heart”, seguida de “A-Yo”, a mesma sequência de abertura do álbum. Embora as duas sejam uma espécie de carro abre-alas, o público levanta mesmo quando ela ataca de “Poker Face” (embora repita a mesma coreografia de dez anos atrás).

Em seguida vem a música que mais combina com o título: “Perfect Illusion”, primeiro single de “Joanne”, que é uma perfeita ilusão enquanto single. Se já era sem graça no clipe, ao vivo ficou totalmente dispensável. Dá pra imaginar ali as excelentes “Venus” e “Gypsy”, do “Artpop”, que nesta tour foi quase que totalmente limado.

O único single deste disco que entrou para o setlist foi “Applause”, numa performance de lacrar, diga-se, pois é nesta música que Gaga mostra ao público o efeito que conecta o palco principal com os outro três mini palcos espalhados pela pista.

Quando fecha o primeiro bloco, ela volta com a excelente “John Wayne”. E daí pra frente é open bar de hit: seguem “Sheiße”, “Alejandro”, “Just Dance”, “Love Game” e “Telephone”. Parece maravilhoso, mas esse set decepciona um pouco por dois motivos. Três dessas canções foram encurtadas, e no meio delas tem outro intervalo pra outra troca de roupa. Isso corta o ritmo do show. Quando o público está aquecendo, pausa. Quando o refrão está engrenando, a música acaba. Hashtag #xatiado, afinal show é pra ser desfile de música, não de moda.

Quarto ato. Lady Gaga atravessa a arena “viciada” em aplauso — quem for ao show vai entender — para chegar ao outro extremo aonde ela irá executar outra de suas marcas registradas: as versões acústicas em seu novo piano, todo de acrílico e cheio de efeitos luminosos. Ali executa a ótima “Come to Mama” e o hino “The Edge of Glory”, que, cá entre nós, fica melhor na versão original. Também podia rolar ali uma “Yoü and I” ou a incansável “Speechless”, mas tudo bem. Segue o jogo.

Neste momento, a cantora começa a interagir mais com a plateia. Ponto pra ela, porque os “little monsters” vão a seu show também para sentir essa interação. Ela fala que sua família toda está presente e que seu pai vai completar 60 anos à meia-noite.

Em seguida, agradece à presença de todos e pergunta quem ali pertence ou está acompanhando alguém da comunidade LGBT. Faz então uma referência aos tempos obscuros pelos quais os Estados Unidos estão passando, a.k.a. Donald Trump, e então começa o hino que fez para esse público: “Born This Way”, que se para os fãs de Madonna soa como plágio de “Express Yourself”, para os “monsters” é como a nova trilogia de “Star Wars”, ou seja, um aprimoramento de algo que já era incrível. E, de fato, a performance é linda, especialmente porque os palcos e os telões se pintam das cores do arco-íris. Impossível não cantar cada verso. E se você tiver bom humor, ainda dá pra mentalmente mixar as duas músicas.

Calma que tem mais. Mais intervalo, mais troca de figurino e Lady Gaga demônia sangrenta, em uma apresentação memorável de “Bloody Mary”. Aí ela para no meio de um dos palquinhos circulares para cantar… “Dancin’ in Circles” (tu-dum-dush). Dispensável. Podia pôr “Gypsy” aí também… Sim, o repórter está obcecado com essa ausência, mas logo esquece quando chega “Paparazzi”, outra versão encurtada por causa de outro intervalo.

Pô, Gaga, cansativo isso aí… Ainda bem que este sexto ato é o momento mais emocionante do show. Uma performance da lindíssima “Angel Down”, seguida de “Joanne”. A canção vem acompanhada do tocante discurso sobre a inspiração do álbum, sua tia Joanne, que também é seu nome do meio e que, segundo a cantora, “é uma dor que sua família carrega por gerações”. Momento lágrimas, interrompido por outro intervalo.

Chega então o último ato com aquela música que, quando toca, explosões solares acontecem: “Bad Romance”. Nesta hora não existe ninguém parado sem cantar cada verso — até o casal Carrie e Matt, dois velhinhos australianos que ganharam os ingressos numa promoção com direito a uma viagem de cinco dias a Los Angeles e que nunca tinham ido a um show da cantora.

Quase onze da noite e faltam duas músicas apenas. Separadas por outro intervalo. Nesta hora a plateia dá sinais de cansaço e começa a deixar as arquibancadas, afinal já rolou “Bad Romance” e o trânsito na saída do Forum não deixa nada a dever ao da saída do Morumbi em dia de show. A distância, aliás, é semelhante. Mas aí quem vazou só perdeu “The Cure” e o bis com “Million Reasons”, novamente no piano.

Em suma: o show foi redondinho e preciso. Mas podia ser melhor, com mais música, menos intervalos e umas coreografias novas. Ah, e se tocasse “Gypsy”… Tá bom, parei! Vou ouvir no Uber indo pra casa.

James Cimino
*Colaboração para o Papelpop, em Los Angeles

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