“Na minha época era melhor”, “Hoje não existe coisa boa” ou “Não existe mais aquela essência”. Estas frases saudosistas podem ser aplicadas em qualquer papo que tenha assuntos como futebol, cinema, novelas ou música, claro. Para ser mais exato, um estilo em específico, o rock. Todo ano, na segunda semana de julho, o rock ressurge em publicações mundo afora para a comemoração do seu dia (13 de julho). Na verdade, a pauta mais comum é aquele título impactante: O rock morreu.
As publicações e fãs se desdobram para encontrar os motivos para extinção deste estilo. As razões são absurdas como declarar que o popular não está mais interessado em música de qualidade, do jabá das rádios ter aumentado muito para roqueiros pagarem ou que a safra atual não ter um motivo verdadeiro de fazer rock.
Por exemplo, na semana passada, dentro do Estadão, a banda Cachorro Grande relembrou de uma entrevista que eles fizeram há algumas temporadas. “A chamada geração colorida acabou com o rock. Aquilo, na verdade, era a volta dos Menudos. Era uma boy band com garotos que sabiam tocar alguns instrumentos. Essa imagem da última geração do rock enfraqueceu o movimento. Se não aparecer nada original e verdadeiro, vai ser cada vez mais difícil para o rock se reerguer”, contou Beto Bruno.
É bem bizarro ler isso, pois existe uma contradição nesta frase. O Restart foi grande e dominou nesta época por trazer algo diferente para o rock, algo mais, digamos, colorido. Por mais que o som possa ser questionável para alguns, era rock e fez um grande barulho.
O que eles apresentaram não foi a revolução do rock nacional ou algo completamente fora da curva do que as outras bandas faziam, Pelu e companhia simplesmente adotaram o estilo de algumas bandas americanas como Cobra Starship ou The Academy Is cantando em português sendo fofinhos. Estavam no momento certo, no lugar certo e na hora certa.
A razão do rock sempre foi chocar e bater de frente com que estava no caminho. Culpar quatro moleques pela queda do rock é bem raso, tirar o corpo fora. Se você parar friamente e pensar: Qual estilo em alta que deixa os pais de cabelo em pé ou que causa estranheza para os demais? Sem titubear, eu respondo o funk.
No meio dos anos 50, o rock adentrou lares e deixou a sociedade bem tensa. Era um estilo selvagem que mexia com alguns valores da família tradicional ao abordar temas comportamentais, falar sobre festas/birita e a dança tinha um apelo sexual, extravagante e ousado para os padrões. Elvis Presley, por exemplo, chocou a sociedade americana e tornou-se símbolo de rebeldia. Um topete, jeans e um rebolado nos quadris. Foi o suficiente.
Aposto com você que se qualquer um chegar em casa e falar que gosta de rock não será um tema. Aliás, dependendo da família, os pais vão até se animar para ver algum festival junto. A mãe vai começar a falar das bandas que curtia em sua época ou que tentou montar alguma banda no colégio ou faculdade.
Se hoje algum hoje jovem quer demonstrar rebeldia por conta de algum estilo, e escolher algo que os seus pais fiquem cabreiros é o funk. Vale lembrar que não estou colocando em mérito o que é melhor, mas o que causa.
O funk causa um incômodo parecido com que o rock fazia. A dança é a sarrada. O visual é chavoso. A letra é explícita. O ambiente é o pancadão. É um conjunto de coisas que chocam a qualquer um. Hoje o rock tem um outro papel, mas não é por conta disso que está morto.
O rock é um camaleão e se molda ao que está em sua volta.
Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.
Quer falar com ele? Twitter: @brunno.
* A opinião do colunista Brunno Constante não necessariamente representa a opinião do Papelpop. No entanto, por aqui, todas as opiniões são bem-vindas. :)
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