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O que o sucesso tem a ver com a morte?

Quem não ficou em choque com a morte do Chester Bennington, líder do Linkin Park, na semana passada? Estava no meio de uma ligação e comecei a ouvir um zunido de lá para cá, fui dar uma orelhada para saber o que estava pegando: Saiu no TMZ! Desliguei o telefone e comecei a acompanhar a enxurrada de notícias, ainda pelo Twitter, sobre a morte dele. Em apenas 10 minutos algumas editorias tinham o raio-X completo do cantor de 41 anos, coleção de postagens de amigos, e algumas teorias da conspiração.

Enquanto eu lia alguma coisa sobre este trágico acontecimento, coloquei para ouvir, sem titubear, o disco “Hybrid Theory” – estreia do grupo. Esta é a maior ligação que eu tinha com a banda. Ainda no colégio e sem plataformas de streaming, eu ouvia este disco praticamente todos os dias num CD que algum amigo tinha queimado para mim.

Confesso que fui um transtorno para os meus familiares, pois por alguns meses era aquilo rolando num radinho. Para mim era algo novo e flertava com outro ritmo que gostava, o rap. Há uma grande chance de qualquer adolescente naquele período ter se rendido pelas garras do new-metal: Limp Bizkit, Korn, Papa Roach e por aí vai.

Como eu, milhões de pessoas mundo afora começaram a ouvir ou comprar algum disco do Linkin Park na última semana e isso me lembrou de uma frase de um chefe meu: A morte leva qualquer banda para outro patamar, pode ser até bom para o artista. É meio sombrio, concordo. Mas é a pura verdade. Ele não falou isso à toa, foi bem no dia que o Michael Jackson tinha ido dessa para melhor e a redação onde trabalhava estava uma loucura.

O que era apenas um site de música, virou uma central Michael Jackson. As pessoas queriam saber o que ele andava fazendo em estúdio, sobre o vício em remédio, de como foi o começo de sua carreira no Jackson 5. Qualquer nota que tinha Michael Jackson no título viralizava. O YouTube já existia, mas ainda havia uma baita briga com as gravadoras. Como tínhamos os direitos dos clipes, fizemos uma coleção de tudo que tinha o MJ e botamos em destaque.

Não por acaso, o Linkin Park se transformou na banda mais ouvida no mundo no último sábado. Não teve Justin Bieber, Luis Fonsi, DJ Khaled ou Ed Sheeran. Apenas no Spotify, a morte de Chester Bennington levou o grupo para mais de 14 milhões de execuções na plataforma. A Billboard registrou a volta de quatro discos do LP entre os mais vendidos: “Hybrid Theory”, “Meteora”, “Minutes to Midnight” e o mais recente, “One More Light”.

Toda e qualquer morte tem algum impacto no legado de algum músico. Há dois anos, BB King foi solar no andar de cima e teve um aumento de mais de 2000 % em suas execuções em rádios brasileiras. Prince foi desta para melhor no ano passado e alcançou o topo do iTunes.

As vendas de George Michael após o seu mal súbito aumentaram 260%, colocando o cantor inglês na frente de Justin Bieber por alguns dias. O ídolo mexicano Juan Gabriel (não) viu o salto que as suas músicas tiveram após a sua ida. Da noite para o dia, Juan pulou de 4,4 milhões de músicas vendidas para 52,9 milhões. Cinquenta e dois milhões!

Por que clicar em algo sobre morte em seu feed de notícias? Desde sempre, a morte é considerada um aspecto que fascina e, ao mesmo tempo, aterroriza a humanidade. Mesmo sem conhecer a pessoa direito, o cidadão se depara com a morte e relaciona de algum jeito com o que tinha em comum com o falecido. “Nossa, lembro de ter ouvido a música dele em tal momento da minha vida e me faz lembrar de tal pessoa”.

A morte de algum artista parece ter o mesmo peso de um ente querido. As pessoas acompanham o cortejo em carro aberto, vão à cerimônia e, após anos, levam flores para o cemitério onde o corpo está. É meio bizarro esta relação com uma pessoa com quem você nunca conversou, mas, de alguma maneira, ela estava em seus momentos de farra ou de fossa.

Não espere para ver quem você curte em um festival ou num show perto de sua casa. A qualquer momento o seu artista pode ter uma síncope e você será mais uma pessoa dando play e engordando o bolso de quem permanecer por aqui.

O jornalista paulistano, produtor musical e marketeiro Brunno Constante analisa, pondera, escreve e traz novidades sobre música no Papelpop todas as terças-feiras.

Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.

Quer falar com ele? Twitter: @brunno.


* A opinião do colunista Brunno Constante não necessariamente representa a opinião do Papelpop. No entanto, por aqui, todas as opiniões são bem-vindas. :)

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