Calvin Harris quer mais do que agradar aos fãs com novo disco

Fazer mais um disco de EDM (Electronic Dance Music) com gritinhos característicos, sintetizadores no talo e um baixo cheio de groove envolvidos por um refrão pegajoso ou tentar fazer algo diferente, fora da curva? Calvin Harris optou pela segunda opção em seu quinto disco de estúdio, “Funk Wav Bounces Vol. 1” – lançado na última sexta.

O trabalho talhado para o verão do hemisfério norte reúne um batalhão de rappers, produtores respeitados e está ganhando diversas menções honrosas de publicações mundo afora. A recepção não está sendo tão amistosa de uma parte importante: os fãs. ‘Disco chato’, ‘Uma das piores coisas que ele já lançou’ ou ‘Último trabalho de Calvin Harris’ são alguns dos comentários em sua página oficial no Facebook.

Para quem alcançou o primeiro lugar com cantigas que botavam fogo na pista de dança como “We Found a Love”, “Feel So Close”ou “Bounce,” este álbum é um balde d’água gelada. Para ter um resultado perto do que Harris demonstrou nas últimas temporadas seria necessário um remix do seu álbum completo para agradar aos ‘fãs das antigas’. Acho que pode ser até uma alternativa ele chamar alguns amigos e fazer versões mais dançantes para acalmar esta fatia do público.

Calvin é um dos maiores nomes da música eletrônica e deve ter feito você dançar em alguma oportunidade nas últimas temporadas. Um lançamento dele significa(va) uma tendência para os demais produtores seguirem para o restante do calendário e garantia de uma agenda repleta de artistas bem populares para gravar mundo afora. Com “Funk Wav”, Calvin Harris pode ter despertado a ira de fãs extremistas, mas atingiu pessoas que nem eram tão fãs assim de EDM e passaram a acompanhar a sua carreira mais de perto. Eu sou um deles.

Eu conhecia os grandes hits e o trabalho que ele fez com a Rihanna, apenas. Depois de ouvir várias vezes o “Funk Wav”, comecei a cavucar os outros álbuns dele e entendi um pouco alguns fãs terem ficados brochados. “I Created Disco”, “18 Months” ou “Ready for the Weekend” são discos para tocar em festas e botar o povo para dançar. Estes discos foram costurados com alguns singles que ele produziu e não deixou a desejar para o seu público.

As participações que ele trouxe para o “Funk Wav” são impecáveis: Frank Ocean, Pharrell Williams, Ariana Grande, PartyNextDoor, Khalid, Nick Minaj, A-Trak, Snoop Dogg, Katy Perry, Big Sean, John Legend, Young Thug… Percebe-se que a maioria acabou de lançar alguma inédita e, mesmo assim, topou gravar com ele. Por mais que o “fã raiz” desconfie do caminho que o artista esteja seguindo, o disco é muito mais amplo do que o que ele já lançou.

Existem as músicas para tocar até esfolar em rádios como “Skrt On Me”, “Rollin” ou “Heatstroke”. O trabalho contém aquela música chiclete e farofa como “Feels”. Já “Slide” ou “Prayers Up” foram feitas para quem não é do rolê EDM, mas curte dançar escondido. Fazer um disco destes é ter muita confiança em seu taco.

Por exemplo, eu não imagino um David Guetta sair de sua zona de conforto e mandar um disco conceitual. O francês prefere jogar no time que está ganhando e ficar numa maré mansa. Quando Calvin Harris começou a fazer algum burburinho no fim dos anos 2000, Steve Aoki e Crookers reinavam em festivais e clubes ao redor do globo.

Ao decorrer de uma década, ele deu um pulo para o mainstream e se transformou no produtor queridinho do mundo pop. A cada disco lançado, Harris precisou ter uma ruptura com alguma parte do público para crescer mais. Da mesma forma que ele criou tendências com “18 Months” ou “Ready for the Weekend” é capaz que emplaque uma nova onda ‘good vibes com “Funk Wav Bounces Vol. 1”. Você não acha?

Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.

Quer falar com ele? Twitter: @brunno.

* A opinião do colunista Brunno Constante não necessariamente representa a opinião do Papelpop. No entanto, por aqui, todas as opiniões são bem-vindas. :)