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O que você achou da Anitta internacional?

Após fazer bonito no seu mercado local, qualquer marca quer expandir os seus horizontes. Para isso, não basta abrir uma barraquinha e expor os seus produtos em algum país que você acha que vai dar certo. Em um primeiro momento, a marca deve estudar qual será a região que poderá ter êxito, procurar investimentos para movimentar o seu capital de giro, enxergar novas alternativas para realização de lucros a longo prazo e por aí vai. Este papo pode ser aplicado em diversas frentes. Para uma churrascaria de cortes finos, um celular de última geração ou, mesmo, na música.

Na última semana tivemos, finalmente, o lançamento oficial da marca Anitta fora do Brasil. Ela seguiu todos os passos citados acima e, agora, trabalha para que sua internacionalização de sua música dê certo. A missão da cantora é difícil, mas não impossível. Cada passo realizado por ela é pensado. Muito bem pensado.

Antes da “Paradinha”, o terreno foi preparado com “Switch”, single de Iggy Azalea – nome que não é do primeiro escalão do pop internacional, mas que está presente em bons programas de TV pelo globo e aparece no line-up de festivais respeitados mundo afora.

Não por coincidência, a carioca ainda lançou “Sim ou Não”, um dueto bilíngue com o colombiano Maluma, a sensação latina da última temporada. Para fazer bonito em ares gringos, a marca deve estar forte e consolidada em seu mercado local, certo? Vale lembrar que uma das músicas mais fortes deste ano tem uma parcela de Anitta: “Você Partiu Meu Coração”, com Wesley Safadão e Nego do Borel. Além de ainda estar bombando com Loka, parceria com Simone e Simaria.

Comparado a qualquer faixa de seu último disco de estúdio (“Bang”), “Paradinha” é bem simples – eu arriscaria em dizer que prefiro o Harmonia do Samba. Não tem nada demais, mas cumpre o papel principal de uma cantiga pop: alojar de forma fácil na cabeça. O clipe é rebolante com locações bacanudas em Nova Iorque.

Apesar do nome em português, a cantiga é cantada em espanhol. Por quê? Não deveria ser algo em inglês para ela se lançar no mercado estadunidense (o mais importante do mundo). Na verdade, não. Os latinos são maioria em 28 estados dos 50 nos Estados Unidos e o cenário é bem animador para quem canta em espanhol por lá.

De acordo com a RIIA (Associação da Indústria de Gravadoras dos Estados Unidos), as receitas da música latina nos Estados Unidos renderam mais de meio bilhão de reais no ano passado. Meio BILHÃO. Por mais que aqui no Brasil tenhamos uma resistência para músicas cantadas em espanhol, Anitta deu um tiro certo em adotar esta tática linguística.

Esta movimentação da Anitta em águas internacionais renderam algumas comparações com a Shakira, maior nome da música latina há duas décadas – sem alguma sombra de dúvidas. Se tem algo que a Anitta pode aprender com a colombiana é ter paciência. Antes de estourar de forma global com o disco “Pies Descalzos” (que era recheado de hits como “Estoy Aqui”, “Donde Estas Corazon”, “Antologia”), a cantora lançou dois discos que tiveram um desempenho, digamos, ruim.

Após um debut modesto, a cantora estava pronta para lançar o disco “Peligro”, em 1993. O resultado da produção do trabalho não ficou do jeito que ela queria… Ao invés de lançar logo de cara, Shakira decidiu pausar as gravações, pensar um pouco na vida e voltar a estudar para concluir o ensino médio. Depois daí, os singles foram embrazando e a cantora foi longe.

O grande lance é que a Anitta deve manter uma sequência da internacionalização de sua marca – mesmo com tiro certos ou flopadas. Estudar quem já tentou trabalhar fora do Brasil e identificar o que pode ser feito parecido para absorver em sua própria receita. Um bom exemplo para não seguir é a estratégia usada pela cantora Claudia Leitte.

Apesar de ter residência em Los Angeles, estar no casting de um selo influente (Roc Nation) e ter lançado um single com um nome relevante no mercado latino (Daddy Yankee), a carreira internacional não teve consistência alguma. A cantora não tinha domínio em seu mercado local, a divulgação de seu single fora do Brasil não acertou os latinos. Após “Corazon”, a integrante do “The Voice Brasil” ainda soltou uma música em inglês chamada “Shiver Down My Spine”, mas não vingou.

Hoje o nome brasileiro que tem tudo para virar é Anitta e com passos largos. “Paradinha” fez um belo estrago e foi apenas o começo. Vamos ver o que vai acontecer nos próximos meses. Eu boto fé nos cantores daqui e acho que alguns com apoio, planejamento e dimdim, poderiam fazer bonito em outras regiões.

A música brasileira é rica e acho que devemos ter mais ‘produtos’ para exportação. Seria bacana ver um pessoal como Pabllo Vittar, Mahmundi, Johnny Hooker ou Tássia Reis tocando também no Jimmy Kimmel ou participando de alguma turnê no Velho Continente. Concordam?

[Ilustração: Victor Augusto]

O jornalista paulistano, produtor musical e marketeiro Brunno Constante analisa, pondera, escreve e traz novidades sobre música no Papelpop todas as terças-feiras.

Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.

Quer falar com ele? Twitter: @brunno.


* A opinião do colunista Brunno Constante não necessariamente representa a opinião do Papelpop. No entanto, por aqui, todas as opiniões são bem-vindas. :)

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