Camila Cabello, Selena Gomez, Iggy Azelea e Katy Perry foram alguns dos grandes lançamentos da última sexta-feira (19). Eu tinha até começado a escrever sobre a parceria entre Iggy e Anitta, mas, depois de tantas mensagens, resolvi mudar o curso da coluna desta semana para falar um pouco sobre “Você Não Presta”, nova música da Mallu Magalhães. Afinal, o clipe é racista ou não?
A faixa apareceu dentre as novidades da semana para mim e eu achei uma cantiga gostosa de ouvir. A cantora flerta com samba e algo que acontece desde último disco dela, “Pitanga”, lançado há seis anos. Até aí, nenhuma novidade. As mensagens que tinham me mandado não era sobre a música, e sim, do clipe de “Você Não Presta”.
O vídeo tem direção de Bruno Ferreira e tem como locação o MARL, Mercado Abastecedor da Região de Lisboa – uma espécie de mercadão para produtos agrícolas em Portugal. Durante o vídeo, Mallu arrisca alguns passos acompanhada por uma equipe de bailarinos, formada majoritariamente por negros.
Eu achei bacana esta seleção, pois na maior parte das vezes, a cota é ter um ou outro preto participando. Esta fórmula vale não apenas para clipes, mas também para o mercado publicitário. Quando existe diversidade em alguma campanha, os personagens são separados de forma categórica por raça. Aparece um negro, um asiático, um indiano…
Eu não me senti ofendido com “Você Não Presta”, mas depois de ver o vídeo algumas vezes comecei a pensar (problematizar) algumas coisas. Nossa, mas precisava besuntar o corpo da negada com óleo? Bacana ela ter chamado esta turma, mas parecem estar apenas de souvenir no vídeo. A negada dança até pingar no chão para a Mallu mandar um sloop dance, de boas. Qual é a relação deles com ela? Parece que nenhuma, estranho.
Você pode rebater: Pô, Brunno, ela chamou um monte de negros para o clipe. Para de reclamar, cara. Isso não é racismo. Sim, você tem razão. Isso não é ser racista. Por mais que ela apareça no mesmo quadro com os dançarinos algumas vezes, existe um distanciamento da figura principal do clipe com o resto. Vendo o clipe pela sétima vez, deu a impressão. Ok, vocês podem participar, mas, por favor, atentos as suas marcas.
Pô, Brunno ², mas você nem conhece ela, cara. Ela não é racista. Não somos broders, mas tive a oportunidade de entrevistar a cantora duas vezes. Nestas ocasiões, Magalhães sempre foi muito educada e não me deixou desconfortável em algum momento. Estamos falando sobre o que o clipe dela desencadeou.
Pô, Brunno³, e se fosse ao contrário? Se fosse uma cantora negra com um monte de dançarinos brancos? Olha, meu rei, acho difícil termos este tipo de discussão se os papéis fossem inversos. Que eu me lembre, historicamente, a população negra foi (é) oprimida pelo homem branco. Por isso estamos levantando esta bola por aqui.
A letra é simples, sincera. Quando eu apenas ouvi, achei super de boa. Quando vi o clipe, fiquei um pouco cabreiro. Com esta letra e o roteiro do vídeo, abre-se um leque de interpretações. Objetificação, hipersexualização e marginalização do coletivo que acompanha a cantora. Por mais que o produtor e diretor não tenham pensado desta maneira, existe uma lacuna para este ponto de vista com vídeo e letra.
No refrão, Mallu Magalhães canta: “Eu convido todo mundo para a minha festa. Só não convido você porque você não presta”. Em diversos quadros, Mallu aparece dançando sozinha e o pessoal dançando de canto, em segundo plano. De qual festa estamos falando? Quem é que não presta?
Ainda não teve uma nota da Mallu sobre a repercussão do clipe, mas ainda na última sexta-feira (19) saiu um release com algumas aspas sobre o clipe e a nova música. “A ideia do clipe nasceu do meu amor pela rua, pela cultura urbana, cosmopolita e forte das pessoas reais. Evoca, também, meu lado desafiador e a irreverência que tanto gosto. Fiquei muito orgulhosa do resultado, com a combinação do cool do vídeo e do bom humor da letra. É um vídeo corajoso, mas também realista”, contou Mallu.
O vídeo é realmente cool. Se eu visse na TV, poderia confundir um comercial de algum tênis. A irreverência de ter danças despretensiosas com umas pessoas dançando a valer pode ter ficado, digamos, estranho. Se o conteúdo tivesse sido desde a criação, pensado com os negros, seria algo com menos tom de apropriação?
Problematização
Esta é uma palavra que está em voga e usada frequentemente para encerrar discussões na era digital. Enquanto ouvia a música, comecei a dar uma olhada em posts e matérias que pipocaram sobre o clipe. Um péssimo hábito que tenho é de ler os comentários e encontrei muita gente usando esta palavra como base. Nossa, mas tudo é problematização. Que chato.
Isso me lembrou a frase de alguns humoristas reclamando que é difícil fazer piada nestes novos tempos, pois tudo é problematizado. Não pode falar de preto, mulher, gay ou japonês. Ainda bem que estamos problematizando a porra toda. Na minha época eu tinha que engolir a seco piadas sobre a minha pele ou cabelo. “Ah, Brunnão, é só uma piada. Você não vai esquentar com isso, né?”.
A problematização serve para você refletir. Ao invés de contestar um gay, trans, gordo, preto, japonês, mulher ou tudo que não gire em torno de homem hétero/branco, pare e pense um pouco sobre o porquê estão reclamando ou, melhor, problematizando. Isso serve para o clipe da Mallu também.
Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.
Quer falar com ele? Twitter: @brunno.
* A opinião do colunista Brunno Constante não necessariamente representa a opinião do Papelpop. No entanto, por aqui, todas as opiniões são bem-vindas. :)
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