Quem assiste reality shows e séries dos EUA sabe muito bem. É raro ver um programa chegar em sua sexta, sétima, oitava ou nona temporada sem algum desgaste, sem baixas no elenco, sem perder o rumo, sem apelar por mudanças radicais no roteiro, continuar com audiência crescente e ficar tão ou até mais interessante quanto as primeiras temporadas.
Um exemplo dessa raridade é o “RuPaul’s Drag Race”. Sucesso absurdo desde sua estreia em 2009, o reality-show que promove uma divertidíssima batalha entre drag queens (sem deixar de lado o drama muitas vezes vivido pelos participantes) parece ser uma fonte inesgotável de energia e criatividade. Ninguém está entediado.
O primeiro episódio da mais recente e nona temporada da série teve 990 mil espectadores, se tornando a maior audiência do reality desde sua estreia. O reconhecimento desse talento ao comandar o programa rendeu para a drag queen RuPaul o Emmy de melhor apresentador de reality-show. Sucesso. Atrás. De. Sucesso.
No Brasil, o programa começa a ser exibido em sua oitava temporada pelo canal Comedy Central e foi por conta dessa novidade que a dona da porra toda, RuPaul, aos 56 anos, a drag queen mais influente do mundo, uma das personalidades LGBT mais poderosas do showbiz, conversou por telefone com o Papelpop para falar de tudo-aquilo-que-a-gente-conseguiu-encaixar-num-papo-de-10-minutos-totalmente-desesperado-para-dar-tempo-de-conversar-sobre-tudo-e-dizer-o-quanto-a-gente-a-venera-e-a-ama.
RuPaul é um ícone da cultura pop e um ídolo para muitos fãs. Se antigamente a drag queen tinha inspiração em famosos como Diana Ross, Madonna, Tina Turner, David Bowie e Cher para seguir com sua carreira, hoje ela não precisa mais de nenhum deles. “Na minha idade, nesse momento em que estou, você começa a perceber que não precisa mais de direção”.
Durante nossa conversa, também falamos sobre o sucesso estrondoso que as drag queens fazem pelo mundo. Já dá para dizer que o o grande público abraçou essa ideia? “Acho que drags nunca vão ser mainstream, seria uma contradição ao que significa ser drag”, contou Mama Ru para o Papelpop.
Ah! Espera! Nós também falamos de Lady Gaga, conversamos sobre a importância que o show tem para garotos e, obviamente, sobre os bafos com algumas participantes que acusam o show de manipulação (lembra da Phi Phi O’Hara?).
PAPELPOP ENTREVISTA RUPAUL:
PAPELPOP: No final dos anos 90, eu morava no Rio e lembro de um dia ir à praia em Ipanema e ver você, de sunga, curtindo o sol. Fiquei desesperado!
RuPaul: Ai, meu Deus. Hahahahaha!
Eu não devia estar te lembrando disso? Hoje em dia dá para ir à praia tranquilamente?
Sim, eu vou. Eu faço o que eu quiser. Às vezes sou reconhecida, mas na maioria das vezes eu dou o meu jeito. Eu consigo viver minha vida sem muito alarde.
Brasil vai ver o RuPaul’s Drag Race em sua oitava temporada a partir de agora. Todo mundo já conhece muito bem o show, mas qual seria o seu conselho pra quem vai ver o programa pela primeira vez?
Assista com o coração aberto e com a mente aberta. O show é expandir percepções sobre o que é viver a vida nesse planeta. Aqueles garotos que estão no programa vieram de pequenas cidades e conseguiram chegar até o nosso show. Eles são tão corajosos e heróicos. Isso é uma grande lição para pessoas que verão o show.
O que te dá mais orgulho durante essas nove temporadas?
O que mais me dá orgulho é que a gente lançou a carreira de 114 drag queens para uma audiência internacional. E isso me dá muito orgulho.
A gente sabe que drag queen é uma coisa divertida, mas para alguns garotos vendo de casa ou até aqueles que participam do seu programa é muito mais que isso… Você sente muita responsabilidade?
Bom, eu sou responsável por ser eu mesma. Vivendo a vida como eu vivo, isso pode ajudar outras pessoas a se acharem e encontrarem o seu propósito na vida também. Mas por anos as pessoas têm me perguntado sobre eu ser um exemplo. Mas eu nunca pensei que eu sou um exemplo. Meu objetivo é seguir meu coração, que é repleto de amor, música, dança, bondade, risadas… São essas as coisas que me inspiram. Nunca me sinto responsável por ser um exemplo.
Você acha que as pessoas respeitam drag queens muito mais agora por causa do programa? Que as drag queens agora são tão famosas que chegam a ser coisas do grande público (mainstream)?
Eu nunca quis ser reconhecida pelo grande público. Acho que drags nunca vão ser mainstream. Porque é uma contradição ao que significa mainstream. Mainstream é sobre se adequar e se conformar com uma identidade e ficar nessa identidade para o resto da vida. Drag é sobre transformação. Os dois estão em conflito.
Você normalmente conversa com as drags antes do show e diz que elas estão em um reality show e que vão ter construções de personagens, edição… Estou errado em pensar isso? Porque no All-Star Season vocês tiveram acusações de quererem transformar umas drags em vilões… Você se preocupa e explica que isso é normal num reality?
Olha, veja bem… alguns realites fazem isso. Fazem mesmo. Mas a gente não faz. Honestamente. Nao fazemos isso. A GENTE TEM DRAG QUEENS NO PROGRAMA! (risos). Nao precisamos manipular nada por causa disso. Nao precisamos criar um personagem. Elas já vêm com um personagem.
Entendi…
Olha, sendo bem sincera. A verdade é que… Phelipe, Phelipe… Eu sei que realities fazem isso. Confia em mim. É a verdade. Mas nós não fazemos. Estamos lidando com drags queens que têm drama o suficiente. Nós não precisamos fazer roteiros por isso.
Então as coisas acontecem naturalmente.
Exatamente. Vem naturalmente. Confia em mim. Nao precisamos roteirizar. Às vezes o roteiro e a história já está lá. Se você vê o show, não importa qual seja a queen… (RuPaul cai na risada) … Você vê claras evidências desse comportamento durante o programa.
Você está falando de quem eu estou pensando?
Nao, olha, é que eu sei que essa acusação vem sendo feita várias e várias vezes. É uma forma que as pessoas que fazem essas acusações arrumam de se desculpar pelo ego [que possuem]. Essas acusações vêm sendo feitas desde o começo. Essas pessoas estão tentando mudar o foco e se livrar do comportamento que elas possuem.
Vamos mudar o foco então… Você fica brava quando a geração atual não tem referência alguma sobre cultura pop? Você chegou a eliminar duas drags porque nenhuma delas sabia a letra de “I Will Survive”…
Não é que eu fico com raiva. Eu fico desapontada. Porque parte do significado de ser drag queen é um comentário social sobre a vida. Drags sempre serão um comentário social. Então você tem que conhecer a sua história, entender de onde a gente vem para poder seguir em frente. Não só para gays, mas para a sociedade em geral. Para todas as pessoas. É preciso conhecer sua historia. Senão a gente não segue adiante.
Você consegue dizer cinco pessoas, cinco ídolos que você admira?
Hmmm… Olha… Eu não tenho mais ídolos atualmente. Quando eu era criança, eu olhava para algumas estrelas e as tomava como caminho e direção. Mas, na minha idade, nesse momento em que estou, você começa a perceber que não precisa mais da direção. O caminho que eu faço vem do meu coração, que é musica, amor, dança, risada, bondade… Esses são meus ídolos agora.
Olha, você é um ídolo meu… Então é um prazer ter essa conversa. Eu vi que você teve Lady Gaga no seu programa. Você sonha com mais alguma participação poderosa como essa para sentar ao seu lado?
Olha, Gaga foi fantástica. Ela é uma apoiadora de drag queens. Ela é uma própria drag queen e ela foi fantástica. Eu não sei se a gente consegue algo melhor que isso. Ela é um doce e muito amável. Olha, Phelipe, eu preciso ir agora porque nosso tempo acabou. Tenho outro jornalista na linha.
Ok! Foi muito bom conversar com você…
Thank you, baby.
“RuPaul’s Drag Race” começa a ser exibida no Brasil em sua oitava temporada nesse sábado, 15 de abril, às 23h, pelo canal Comedy Central.
Para esta temporada, RuPaul traz de volta os juízes Carson Kressley (Queer Eye, How to Look Good Naked), Ross Mathews (The Tonight Show, Chelsea Lately) e Michelle Visage (The RuPaul Show, Celebrity Big Brother), que serão acompanhados por jurados convidados como Nicole Richie, Gigi Hadid, Marc Jacobs, Chanel Iman e Vivica A. Fox.
Atualmente, o programa exibe nos EUA a sua nona temporada, que tem participações de Lady Gaga, Kesha e Lisa Kudrow. A décima temporada da série já foi confirmada pela VH1.
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