No ano passado, o Iggy Pop lançou um disco chamado “Post Pop Depression”. Eu ouvi bastante, mas nunca tinha me atentado ao título do trabalho. Ao escolher o tema da coluna da semana comecei a ouvir novamente e percebi que as músicas são belas, mas tem aquele poder de bater de um jeito que o coração fica meio apertado e você não sabe o porquê. Esta característica não está apenas destinada ao rock.
Curtir uma fossa desgraçada está presente em uma porção de estilos como sertanejo, forró, pagode, jazz e, claro, também no pop. Quero deixar bem claro, que não estou falando de baladas inseridas dentro de um álbum para dar aquela quebrada, dentre as músicas mais animadas, estou falando de uma sequência para pedir para o garçom trocar o DVD.
Frank Ocean, Lorde, Lana Del Rey, Agnes Obel, Fredrika Stahl, Dillon, Skylar Grey. Todos são artistas exímios com bons singles e discos premiados em sua bagagem. Mas também são envoltos de um verniz introspectivo, difícil de lidar nas primeiras audições e bate até uma certa deprezinha. Isso é ruim? Não, claro que não. Às vezes bate aquela vontade de ouvir alguma coisa num beat mais moderado e pensar na vida. Eu gosto do termo pop triste para falar algum destes artistas. É meio bizarro ter pop e triste na mesma sentença, mas faz sentido ao ouvir algumas tracks da Lana Del Rey ou pegar alguma letra da Lorde.
Raise a glass, ’cause I’m not done saying it
They all wanna get rough, get away with it
Let ’em talk
’Cause we’re dancing in this world alone
World alone, we’re alone
Para muitos, o ar destes artistas praticantes do ‘pop triste’ e provoca incômodo. A atriz e cantora Juliette Lewis, por exemplo, disse que “assistir a essa ‘cantora’ é como ver uma adolescente de 12 anos em seu quarto fingindo que está cantando”. Nesta entrevista, a Lewis está falando de Lana del Rey e enxerga uma maneira de como um artista deve manter perante ao seus fãs. Eu tive a oportunidade de assistir o show das duas e a pegada é completamente diferente.
Juliette Lewis sai do palco toda suada, lambe o guitarrista, se joga no público, berra até perder a voz e, quando o calor está de matar, deixa algumas peças pelo palco. Lana Del Rey parece ter todos os movimentos pensados por um coreógrafo. A luz sempre favorece o melhor ângulo da cantora, a afinação de tudo no palco é impecável como na gravação, o rosto não cai uma gota sequer de suor e a interação com a plateia é contida e respeitosa.
Ter a opção de uma música ‘dopante’ para um momento que você esteja mais reflexivo e não muito para amigos, funciona. A capacidade do som influenciar o nosso estado emocional tem a ver com ela produzir reações fisiológicas em nosso organismo. Com a entrada de algum ‘beat certo’, o nosso corpo começam a gerar estímulos elétricos através de sequências de descargas nervosas. Duvido que alguém aqui tenha vontade de sair para dançar a beça depois de ouvir o ‘Ultraviolence’ inteirinho.
Por estas bandas, o pop triste ganha uma nova trilha nesta semana. Cantado em português e com todo background melancólico necessário para você curtir feito por uma cantora chamada Geo. Em sua estreia Eu estava procurando alguns nomes a mais que cantam em português, mas a maioria cai numa linha tênue de MPB. Para quem souber de mais alguns, fique a vontade nos comentários :)
Pop Triste não é Dream Pop?
O primo feio, nebuloso e introspectivo do pop foi uma resposta do que estava acontecendo no meio dos anos 80. O punch agressivo e rebelde deu lugar a uma postura mais reflexiva, letras brandas com batidas eletrônicas e distorção elevada a máxima potência. O batismo de dream cai bem, pois as bandas não eram lá tão populares. Ficava apenas no sonho mesmo. Ao ouvir causa qualquer banda desta safra, causa uma certa estranheza.
O pop triste tem um lugar cativo no seu coração?
Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.
Quer falar com ele? Twitter: @brunno.
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