Eu não sei o costume de cada um aqui, mas há uns bons anos eu não sei o que é ligar o rádio e esperar por uma boa música em alguma estação. Quando eu usava o rádio de uma forma constante era para ouvir músicas e, se eu gostasse muito de alguma, eu deixava uma fita cassete de prontidão para gravar. Foi assim em minha infância e com os avanços da tecnologia nas últimas duas décadas (CD, iPod, Streaming), eu fui largando o rádio aos poucos.
Na quarta-feira da semana passada, a Noruega abriu um espaço importante na era das telecomunicações. Eles serão o primeiro país a fechar a frequência da rádio FM e passará a operar apenas no digital. De acordo com Ministério das Cultura, a mudança será benéfica para os cofres públicos, pois eles vão salvar mais de 25 milhões de Trumps por ano, quase 80 milhões de reais em uma temporada. Uma quantia bem razoável para algo anacrônico por aquelas bandas. A transição será gradual, ou seja, não será tudo numa tacada só. Eles vão começar por municípios, até desligar de forma total no fim deste ano.
Por mais que vivamos num período de cortes drásticos do governo para equilibrar o caixa e ficar no azul, será que esta ideia iria pegar por aqui? Imagina abrir algum site e se deparar com a notícia: Michel Temer adota discurso norueguês e pretende fechar a frequência FM no Brasil. Bem, seria algo que iria ajudar a popularidade dele cair, pois quase 89% dos residentes em 13 regiões que a pesquisa foi feita ainda ouve rádio. Isso representa 52 milhões de ouvintes. Sim, é muita coisa.
O levantamento foi feito pela Kantar Ibope Media e trouxe outros números embasbacantes: cada pessoa passa, em média, 5 horas por dia ouvindo rádio. A maioria dos pesquisados revelou acompanhar a programação em casa (52%), 15% no carro, 10% no trabalho e 6% em trajetos.
É de ficar impressionado com o impacto que as rádios ainda tem por aqui e me fez lembrar de um papo que eu tive com um produtor de sertanejo há uns dois anos. Na época, ele disse que o YouTube ajudava na hora de vender shows e usar de termômetro como estavam as músicas do álbum, mas nada se comparava as rádios. Até aí, tudo bem. Se a internet deixa na mão em grandes capitais, imagina nas cidades do interior do Norte? A rádio chega em qualquer canto e eles conseguem identificar o volume de execuções por medidores como Crowley ou Connect Mix.
Ainda no papo, ele contou que é um investimento que deve ser feito por qualquer escritório que queira promover algum artista. Investimento = jabá promocional como sorteio de viagens para ver algum show, camisetas, iPads e, em alguns casos, algum agrado financeiro para reforçar a importância da música na programação.
Por aqui, a rádio representa não apenas mais meio para você ouvir cantigas, mas mexe com poder, status e dimdim. Uma combinação explosiva e delicada para estar disponível apenas no digital, não? Isso sem contar elas lidam com notícias de economia e política, mas este é um assunto para outros sites.
A rádio é enraizada na forma que consumimos músicas e notícias por aqui, acho praticamente impossível digitalizar essa frequência. Por mais que cada vez mais estamos utilizando aparatos digitais para resolver a vida, o rádio tem um poder imenso em nossa cultura. Você acha que a Noruega acertou em desligar o rádio?
Fita Cassete é o alterego de Brunno quando ele fala sobre o assunto.
Quer falar com ele? Twitter: @brunno.
* A opinião do colunista Brunno Constante não necessariamente representa a opinião do Papelpop. No entanto, por aqui, todas as opiniões são bem-vindas. :)
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